sábado, 20 de fevereiro de 2010

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Poucas e grandes coisas sempre farão falta na vida. A infância é uma dessas coisas, pra mim.
Quanto mais o tempo passa, e paro pra perceber essa passagem, sinto uma saturação nojenta, inquieta. A característica peculiar da espécie humana me tortura ao passo em que o tempo continua severo.

A inocência é impagável, o proveito que se tira dia como se não houvesse limite a não ser o próprio cansaço.

Quero ser pequeno, quero que as árvores sejam grandes e um desafio, extremamente convidativas, me desafiando a escalá-las.

Quero tirar o peso da responsabilidade que não pedi das minhas costas.

Quero brigar esquizofrenicamente com inimigos imaginários.

Quero não desenvolver metas, deixando a noite que se aproxima me lembrar de que há um amanhã.

Quero me deitar com os cachorros numa manhã fria.

Quero não fazer idéia da minha limitação.

Quero nunca sair do meu mundo.

Quero viver e ter medo da morte.

A morte, quero o direito de que esse seja meu fim absoluto, o jazir permanente da consciência.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Manifesto

Escravos servem como meros objetos que são um meio para o lucro, que é o produto final, não importando a qualidade de vida ou os desejos que o explorado tem. Todos sabem dessa definição.
O que não sabem é que ela é perfeitamente aplicada aos animais.

Muitas pessoas sequer consideram a causa animal algo relevante por se tratar de animais, seres que sequer podem se comunicar, que "não sentem como sentimos".

O motivo pra continuar consumindo carne, exaurindo até a última gota de (já pouca) vida dos animais que produzem derivados e vestindo suas peles é um só: capricho.

É ridículo o fato de o humano utilizar uma característica peculiar de sua espécie pra afirmar uma hierarquia onde o homem está no topo.
Racistas se sentem superiores às pessoas de diferente etnia por causa da cor da sua pele.
Sexistas se sentem superiores ao sexo oposto por pertencerem a um sexo.
Especistas se sentem superiores porque têm uma característica que nenhuma outra espécie tem.
Em todos os casos a linha de raciocínio é a mesma, e é igualmente repugnante e ridículo, e não é preciso pensar muito pra descobrir o motivo: as pessoas se consideram algo como se tivessem escolhido nascer de determinado jeito ou como se tivessem feito algum esforço pra conseguir atingir o estágio de "superioridade".

Comer carne não é necessário para a nossa sobrevivência, visto que temos opções que substituem qualquer nutriente na carne, laticínios e ovos em alimentos que não precisam explorar diretamente.
Aliás, a questão da saúde pra justificar o consumo de carne é a coisa mais estúpida a se falar pelo simples fato de que maioria dos onívoros só lembram da questão nutricional quando estão querendo justificar seu posicionamento anti-vegetariano. Na prática tenho certeza de que quase ninguém se preocupa com o que está comendo ou que ao menos lê ingredientes do que compra antes de consumir. As quantidades necessárias com relação às carnes pra manter uma vida saudável são expressivamente ultrapassadas todos os dias. Num churrasco, então, nem se fala...
Não é uma regra, que fique bem claro, mas, generalizando, vegetarianos com o mínimo de preocupação com a substituição dos nutrientes encontrados nas carnes (que são de fato encontrados mais facilmente das fontes animais - o que não justifica o consumo) vão variar mais a sua alimentação e vai se informar mais sobre o que fazer e como se alimentar pra que não haja carência.

Foi-se o tempo em que precisávamos de carne. Hoje esmagadora parte da população mundial é urbana e ninguém precisa mais sair pra caçar ou criar gado pra sua subsistência.
A época em que o humano se viu forçado a caçar já passou e dificilmente voltará. Se voltar, a justificativa da necessidade é mais que válida.

Outra coisa que vejo bastante é o argumento de que a plantação de soja é, junto com a pecuária, principal responsável da degradação ambiental brasileira. Sim, é. E se engana quem acha que a soja é produzida para o consumo humano. Maior parte da soja produzida vai alimentar o gado que vai virar um bifinho no prato de alguém. E é um erro enorme achar que a dieta vegetariana depende da soja porque tá muito longe disso.

Já vi, também, muitas pessoas falando que vegetarianismo é hipocrisia porque as colheitadeiras mecânicas e agrotóxicos utilizados nas produções de vegetais acabam matando animais.
Não é mentira. É inocência achar que, nos dias de hoje, alguém pode viver em meio urbano sem financiar, mesmo que indiretamente, algum tipo de sofrimento/morte. Mas daí insinuar que "se não der pra fazer tudo que não faça nada" é idiotice, das grandes.
A proposta é tentar diminuir ao máximo a exploração/morte de animais de acordo com as condições que o mundo atual proporciona. Há alternativas, como comprar alimentos orgânicos ou plantar uma pequena horta em casa, por exemplo.
E além do mais, não dá pra comparar as condições de animais que são vítimas de colheitadeiras e agrotóxicos: até então eles estão livres, o que nem de longe acontece com animais de abate, vacas leiteiras e galinhas de granja. Sem falar que não dá pra comparar a quantidade de animais vitimados não propositalmente com o número enorme (e crescente) de animais explorados/mortos propositalmente e, pior, sem necessidade.

Não é preciso gostar de animais pra respeitar sua senciência, basta o mínimo de senso de justiça.
A questão não é ter pena ou compaixão, é algo muito mais abrangente que ultrapassa o sentimentalismo.
Não cabe a nós definirmos quem tem mais ou menos direito à liberdade seguindo conceitos estabelecidos por nós mesmos, é algo muito conveniente já que somos os únicos que podemos conceituar.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

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Hoje estava observando uma família de micos estrela e percebi que eles me observavam, ora se aproximavam, ora se afastavam. Era como se eu fosse uma aberração que causasse fascínio. Se pudessem falar, acho que diriam que têm pena de mim, ao menos eu gostaria que falassem isso.
Os invejo, são livres, nasceram pra viver o que a vida é, cruamente.

Lamento por estar nessa espécie, onde sabem o que "temos que fazer" pro futuro desde o momento em que nascemos.

Não pedi pra nascer mas me cobram como deveria viver. Não crio as opções, apenas escolho.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Estética da agonia

Coloco dois pregos em pé
Desço as duas mãos, com força, uma em cada prego
Sou meu Deus
Pago pelos meus pecados, eu mesmo

Empurro as costas de uma mão contra um olho
Sinto o prego estourar o globo ocular
O melhor cego
Aquele que sabe que não vê

Coloco uma lâmina na boca
Entre dentes superiores e inferiores
Mordo com força
Sinto o ardor na gengiva, a lâmina estaciona

Acabou, não posso continuar
A lâmina não me deixa falar
Ha ha ha

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

32 de Dezembro

É o primeiro dia do ano, deveria ter começado diferente... algo novo, fresco, sem a carga pesada do caminhão do ano. Considero todos os dias do ano como pequenas cargas a serem colocadas em um caminhão, de maneira que no final o caminhão está sobrecarregado, mas atingiu o seu destino e vai descarregar, e assim recomeça a sua estrada, pronto pra carregar mais 365 pequenas cargas. Mas no meu caso, especialmente neste ano, me parece que o fabricante do caminhão foi um grande filho da puta: havia um fundo falso, de maneira que haviam cargas colocadas lá antes de começar minha jornada do primeiro dia do ano.
Vamos encarar os fatos de vez: todo caminhão tem um fundo falso, mas a euforia da suposta devida entrega não nos faz perceber o peso extra que o caminhão tem. Cedo ou tarde ele ficará sobrecarregado.
O ano passado, que foi há apenas 15 minutos, teve cargas bem pesadas de maneira geral. O que fode com minha cabeça é o porquê de não ter percebido o fundo falso, sendo que ponho todas as cargas no caminhão manualmente.
Agora, sentado na beirada da cama de um hotel meia estrela (daria uma se saísse algo ao menos parecido com água em vez de um líquido rosado e denso que me lembra dipirona sódica sabor framboesa vomitada), com vista pro beco e um cheiro de mijo humano que me dá pena até dos ratos - se eles pudessem falar com certeza diriam que a existência humana tem seu lado bom: aliviados, diriam: "achava que era imundo, ainda bem que existem humanos, me sinto melhor" e eu concordaria com cada palavra dos meus amigos roedores -, me canso, de uma vez por todas, de encher o caminhão de novo. Se eu fizer isso, as cargas do fundo falso nunca irão sair, e sempre haverá um peso extra que comprometerá seriamente o funcionamento do veículo. Porra, porquê continuo recolhendo dias encaixotados se tenho uma mercadoria da qual teria que ter me livrado há tempos?
De repente uma peça cai do nada pra matar a charada: a culpa não foi do fabricante, mas minha! Aquele fundo falso foi feito para medidas de emergência, quando precisasse guardar algo que deveria descarregar posteriormente, como caixas que não estavam completamente cheias. Eu havia me preocupado tanto com as ordinárias 365 cargas que havia me esquecido que em épocas eu não descarreguei exatamente 365 dias, de modo que os reservei no fundo falso. Que idiotice, porra! Como posso carregar outras cargas sem ter descarregado as antigas?
De repente fica claro que não preciso carregar 365 cargas, apenas me obrigo porque os outros fazem. Não queria parecer relapso. Há cargas que são tão pequenas que não farão diferença alguma em certos anos ao passo em que há outras que farão diferença, mas são complicadas e é conveniente que sejam colocadas onde não se possa ver, como se o caminhão fosse resistir a uma sobrecarga. No final tudo vira um problema.
Agora sou um motorista que anda pela estrada sem saber onde e como descarregar aquilo que deixei passar. Me custou pra perceber que os fogos de artifício não queimariam algo que não coloquei para que fosse explodido junto com aquelas velhas cores novas. A carga só pesa porque confiei na leveza do novo sem ter dispensado o peso do velho.


sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O epílogo do sono


Dormir é um transporte pra um estágio de total liberdade mental. Quando se dorme, sonhando mais especificamente, não há limites físicos/espaciais.

Uma vez que se dorme não há grandes preocupações, problemas simplesmente desaparecem e o tempo é inexistente. Mas depois acordamos. O fato de acordar me faz perguntar se a morte não é o máximo de liberdade que podemos alcançar, embora não estejamos conscientes disso. Deve ser porque a liberdade é tanta que sequer merece ser percebida.
Costumava conversar sobre o universo com dois amigos e percebi que me interesso pelo assunto. Enfim, dormir é como se fosse um universo particular, mas como só estamos cientes da existência de um universo e apenas imaginamos que hajam outros universos (teoria das cordas e teoria M). Não percebemos os outros universos, apenas estipulamos. Logo, a morte seria esse mesmo "jogo": estipulamos o que possa haver após a morte e eu prefiro acreditar que há um rompimento tamanho de limitações e barreiras que temos enquanto vivos que sequer pode-se perceber, o que não significa que não esteja lá.
Isso tudo evidencia nossa limitação enquanto seres existentes, é a prova máxima de que somos minúsculos.
Quero deixar claro que falar da morte não quer dizer que seja necessariamente algo triste, simplesmente abordei uma nova perspectiva sobre o assunto.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Cansei de pensar em título

Cansei de forçar minha natureza pra me tornar uma pessoa mais sociável e acabar por plastificar minhas expressões em público.

Cansei dessa timidez que cresce ao passo que vejo o quão pessoas podem ser idiotas que se sentem no topo de alguma hierarquia.

Cansei de sorrir sem graça pra esconder meu desconforto pra não tirar o conforto dos brincalhões, pois eles são egoístas demais pra deixar de rir do incômodo que causam.

Cansei de hormônios que querem me intimidar, no final todos são "só mais um e a fila anda" - cansei de criticar isso também, que a putaria reine.

Cansei de tentar descobrir o que há de errado em querer ficar só quando solidão = liberdade.

Cansei de escrever revoltinhas de otário nesse blog porque agora já não estou mais revoltado e em breve deletarei esse post (ou não).